I miss me.
A licença poética que tente explicar a frase que aparece
meio nublada ainda na mente, em alguns lapsos de distração.
Não estou dizendo que
queria voltar no tempo, reviver alguma outra época.
Sinto falta de mim.
Ainda que eu tenha essa sensação tão forte de que estou sendo mais eu do que jamais fui, a distância
de algumas coisas me faz sentir essa falta.
Sinto falta daqui, desse lugar de compartilhar
sem medo de errar, sem pensar pra falar, ou pensando demais antes de falar.
Sinto falta da poesia. Dos sons, das rimas, das cores, dos
contrastes , das imagens tão fortes, as vezes nítidas, as vezes embaçadas que
se formam e ficam guardadas num canto especial da alma.
Eu até queria, mas não tem rima aqui. Não tem metáfora.
Não tem
crônica, não tem figuras de linguagem.
Mas tem palavras (ainda bem).
Não são soltas. Nem cruas. Muito menos vazias.
Mas você percebe a falta?
Ela está aqui. E ainda que discreta, me incomoda,
honestamente.
Verdade é que antes,
não sabia muita coisa sobre mim, sobre o tempo, as palavras, a vida em geral.
E hoje sei menos
ainda, sem dúvidas.
Quanto mais a gente vive, mais descobre que menos sabe...mais
percebe também que aprender é o caminho,
não um fim.
E não estou falando de
idade. To falando de vida. De experiências diversas, confrontos , surpresas, erros e acertos, retornos, mudanças, esse misto de cotidiano e inesperados que compõe
nossos dias e acabam nos formando, no
fim das contas.
Tá vendo? Sinto falta
disso aqui...de ir escrevendo, escrevendo, escrevendo ( ou digitando) e ir
percebendo que as coisas vão clareando ou desvanecendo conforme vou colocando
aqui.
Ler quase sempre virou trabalho, escrever também.
E trabalho não é ruim, pelo contrário,
dignifica e transforma eu e o mundo. Mas trabalho já foi peso, o que eu achava
que era vocação já virou burnout, e me fez
perder a vontade de viver, me fez viver um inverno absolutamente desolador,
que eu honestamente espero não passar mais.
Desse limite, eu corro, com força.
Se me ver correr, não estranhe. Pode parecer que é do nada. Mas é porque não sabia meus limites. Ao menor sinal deles, eu vou correr sim.
Acho que to bem perto
deles. E quanto mais perto deles, mais longe de mim eu me vejo.
Não do eu que acho que sou, ou que tento ser :
O eu cheio de horários marcados pra praticamente tudo, pq a
ansiedade me fez aprender a minimamente aceitar a rotina como algo bom.
Não o eu que faz
listas e mais listas e vai apagando as coisas conforme consegue realizar ( ao
invés de marcar e ver tudo que conseguiu fazer...ai ai)
Não o eu que foge pra rede social, pra distrair e pra
pertencer de alguma forma bem boba e ilusória tbm.
Não o eu que tenta corrigir,
adequar, servir, administrar tudo com o máximo de intencionalidade e temor , e
claramente não consegue.
Mas o eu que disse
querer andar de bicicleta na praia ( eu nunca fiz isso, mas é a imagem que eu
tinha).
O eu que toma café sem
pressa, ou acorda sem o despertador e uma agenda toda cronometrada.
O eu que dá risada e chora quando quer, que interage quando
quer, sem se preocupar com seja lá quem for, ou o que for pensar.
Não infantil, ou bobo.
O eu mais livre.
Essa intencionalidade toda em tudo , me cansa.
Tanto que ela praticamente
não existe aqui.
É, eu sinto falta de mim.
- mas aqui, geralmente acabo me encontrando.