quinta-feira, 7 de março de 2024

I miss me

 I miss me.

A licença poética que tente explicar a frase que aparece meio nublada ainda na mente, em alguns lapsos de distração.

 Não estou dizendo que queria voltar no tempo, reviver alguma outra época.

Sinto falta de mim.

Ainda que eu tenha essa sensação tão forte de que  estou sendo mais eu do que jamais fui, a distância de algumas coisas me faz sentir essa falta.

  Sinto falta daqui, desse lugar de compartilhar sem medo de errar, sem pensar pra falar, ou pensando demais antes de falar.

Sinto falta da poesia. Dos sons, das rimas, das cores, dos contrastes , das imagens tão fortes, as vezes nítidas, as vezes embaçadas que se formam e ficam guardadas num canto especial da alma.

Eu até queria, mas não tem rima aqui. Não tem metáfora. 

Não tem crônica, não tem figuras de linguagem.

 Mas tem palavras (ainda bem). 

Não são soltas. Nem cruas. Muito menos vazias.

Mas você percebe a falta?

Ela está aqui. E ainda que discreta, me incomoda, honestamente.

 Verdade é que antes, não sabia muita coisa sobre mim, sobre o tempo, as palavras, a vida em geral.

 E hoje sei menos ainda, sem dúvidas.

Quanto mais a gente vive, mais descobre que menos sabe...mais percebe também  que aprender é o caminho, não um fim.

 E não estou falando de idade. To falando de vida. De experiências diversas, confrontos , surpresas, erros e acertos, retornos, mudanças, esse misto de cotidiano e inesperados que compõe nossos dias e  acabam nos formando, no fim das contas.

 Tá vendo? Sinto falta disso aqui...de ir escrevendo, escrevendo, escrevendo ( ou digitando) e ir percebendo que as coisas vão clareando ou desvanecendo conforme vou colocando aqui.

 Ler quase sempre virou trabalho, escrever também. 

E trabalho não é ruim, pelo contrário, dignifica e transforma eu e o mundo. Mas trabalho já foi peso, o que eu achava que era vocação já virou burnout, e me fez  perder a vontade de viver, me fez viver um inverno absolutamente desolador, que eu honestamente espero não passar mais.

Desse limite, eu corro, com força.

Se me ver correr, não estranhe. Pode  parecer que é do nada. Mas é porque não sabia meus limites. Ao menor sinal deles, eu vou correr sim.

 Acho que to bem perto deles. E quanto mais perto deles, mais longe de mim eu me vejo.

Não do eu que acho que sou, ou que tento ser : 

O eu cheio de horários marcados pra praticamente tudo, pq a ansiedade me fez aprender a minimamente aceitar a rotina como algo bom.

 Não o eu que faz listas e mais listas e vai apagando as coisas conforme consegue realizar ( ao invés de marcar e ver tudo que conseguiu fazer...ai ai)

Não o eu que foge pra rede social, pra distrair e pra pertencer de alguma forma bem boba e ilusória tbm.

 Não o eu que tenta corrigir, adequar, servir, administrar tudo com o máximo de intencionalidade e temor , e claramente não consegue.

 Mas o eu que disse querer andar de bicicleta na praia ( eu nunca fiz isso, mas é a imagem que eu tinha).

 O eu que toma café sem pressa, ou acorda sem o despertador e uma agenda toda cronometrada.

O eu que dá risada e chora quando quer, que interage quando quer, sem se preocupar com seja lá quem for, ou o que for pensar.

 Sabe? O eu espontâneo.

Não infantil, ou bobo.

O eu mais livre.

Essa intencionalidade toda em tudo , me cansa.

 Tanto que ela praticamente não existe aqui.

É, eu sinto falta de mim.

 - mas aqui, geralmente acabo me encontrando. 

 



terça-feira, 30 de janeiro de 2024

Cadê minha identidade?

- Onde está sua identidade?

A pergunta caiu como uma bomba:

- “ Oi?”

- Sua identidade, o documento, sabe?

  - Ahhh!

  Abri a bolsa, a carteira bordada, mas não estava lá. Dei uma olhada nos bolsos internos, ‘vai que estava aqui o tempo todo, mas eu não vi?’ – pensei. 

Mas não estava. E eu sabia. Eu demorei uns dias pra perceber que não estava onde ‘sempre esteve’. E jurei que tinha se perdido dentro de uma das bolsas que sempre uso, provavelmente ficou em alguma troca. E fui deixando. Meses.

‘Vai aparecer quando eu der aquela geral de fim de ano nas minhas coisas’. Mas também não apareceu.

  O ano acabou, todas as bolsas e espaços possíveis foram verificados. Porque como diz minha mãe, ‘quando você não sabe onde está, pode estar em qualquer lugar’. Mas aparentemente, esse ‘qualquer lugar’ era literal e bem mais amplo.

 Só caiu a ficha mesmo que havia perdido depois do Natal, quando minha irmã disse:

- Você tem que fazer B.O e a segunda via, logo.   

 De fato. Ela provavelmente sumiu em outubro, se minhas impressões não estiverem erradas...pera...ele, o documento.

   Ou a identidade? Sabe que eu não sei?

‘ Me perdi na personagem’, - eu falei brincando.

 Não quis foto nesse início de ano, porque tinha essa sensação forte de estar ‘ perdida’ sobre mim mesma. Uma coisa é não me reconhecer por não me enxergar...e isso geralmente acontece, e se torna um processo muito interessante ver o ‘ que eu não consigo ver’ através dos olhos dela.

 Mas esse ano, o medo era não me reconhecer em nenhum momento. Parecia tudo meio ‘ embaçado’.

 E eu que sou dessas que mistura tudo mesmo, que nada é por acaso, e coisa e tal, já vi toda a sincronia da perda do documento com a perda da ‘identidade’. Por que afinal, onde ela estava, que pareceu se perder assim?

 Já quis fazer associações com Outubro, e situações dali em diante. Faz sentido? Se eu quiser sim, mas acho que foi antes.

 Não tenho clareza do momento. Mas percebo essas linhas difusas nesse processo doido de ‘ mudar e se descobrir, e reinventar’ enquanto caminho.  Mudar é extremamente necessário, e se tudo der certo e a gente não ‘ emperra’ na própria teimosia, é natural também.

 Mas percebo coisas que eram essenciais e foram ficando pra trás sendo retomadas e devolvidas de certa forma.

  Tentei fazer minha segunda via do documento online, fiz a foto em casa, do jeito que eu quis. Pensei : " finalmente uma 3x4 minimamente decente, diante das condições absurdas que a gente tem que seguir - onde já se viu, não sorrir?. 

 Mas não foi ‘ aceita’. E eu perdi um tempão ‘ esperando’ pra ver. Fui lá só pra checar. E não ‘ estava em andamento’. Mas se eu quisesse fazer na hora podia.

 Eu ri. Porque estava uns 40 graus. Eu estava suando, sem maquiagem, quase desisti.

 Mas quer saber?  Pra quê, ficar tentando ‘ montar’ uma pessoa ‘ apresentável?’ quem é ela?

Me perdi na personagem’, foi o que eu disse rindo  pra minha irmã enquanto recusava as fotos novas.

 A  pessoa do ' finja até se tornar’ sabe?

A pessoa ‘ apresentável’ é legal, faz parte de alguns momentos. Mas não é tudo. A que sai andando por aí pra fazer as coisas a pé porque tem medo de dirigir também faz parte.

 A ‘ teacher’ que costuma aparecer mega animada ou feliz pros alunos sem precisar fingir, porque de fato, ver gente, ter gente pra conversar, compartilhar, ouvir , ajudar, faz todo sentido , e é um privilégio pra mim. Mas a que termina a aula e se vê exausta no fim do dia e nunca entende o por quê, também.

 A que chora por ( quase) tudo , seja de rir, de alegria, de emoção, de tristeza ou de saudade. E também a que se 'esconde'.

   A que tem pavor de errar e acaba errando muito mais só por isso. 

   A que tem enxaqueca e fica arrasada quando a ‘ crise não passa’.

   A que pensa e planeja o dia como se ele tivesse 350 horas e eu tivesse toda energia do mundo pra fazer tudo que acho que ‘ tenho que fazer’.

   A que queria manter contato com Deus e o mundo e mal dá conta de responder mensagens simples de alunos.

  A que ama dar risada, ri a toa , alto e ainda por cima ‘errado’ – como diz minha mãe rs.

  A que ainda está se descobrindo em tantos aspectos, e tá amando os 30+ apesar de toda doideira que tem sido.

 A que hoje, tem convicção do chamado missionário. Da facilidade com aprendizado de idiomas, e de contação de histórias, e absoluta aversão a matemática e a dirigir, mesmo sabendo que ‘tudo é possível de aprender’ e que não vai dar pra ‘ empurrar’ isso pra sempre.

 A que é faladeira, curiosa, determinada, exagerada, dramática, ansiosa, feliz, agitada, paciente ( dizem).

 Que diz que não gosta de estereótipos mas viveu enfiada em um quase a vida toda, e quase morreu quando Deus começou a quebrar seus próprios moldes.

 Mas que não é só o que faz. O que mostra. O que tem de ruim, ou de bom.

 Que tá aprendendo todos os dias, a ser Filha.

E nesse ser filha inclui aí : discípula, amiga, noiva, casa.

  Onde está minha identidade? Nele. 

Fotos : arquivo pessoal

quinta-feira, 11 de janeiro de 2024

Entre pensamentos de ansiedade e esperança ...

 Eu queria um texto ágil.

Não, na verdade, profundo.

E rápido.

Visceral?

Que palavra é melhor?

Hmm...não parece com essas...

Parece que não consigo lembrar...ou escolher? Não sei ao certo.

É tudo tão rápido!

A velocidade do pensamento nunca acompanhou a velocidade dos dedos ou da fala. 

 Sempre é muito mais rápida...sempre parece me atropelar e levar pra várias hipóteses, ruins na maioria das vezes. 

  E quando eu me dou conta já estou exausta, e quase sempre, arrasada.

‘ Desisto antes de tentar’, ‘ Morro antes do tiro’.

 A culpa cai como uma luva..não, uma luva se adequa. A culpa esmaga.

É um rolo compressor.

Porque no fim, é assim que o corpo responde: sem ar...o coração apertado, a mente gritando pra tentar sair desse ritmo frenético de milhares de pensamentos por segundo, todos ao mesmo tempo, todos aparentemente sem solução...todos caindo como enxurrada.

Tanto que as vezes escorre.

Sai derrubando tudo pela frente. E parece que não vai parar..que fonte é essa que só produz e não diminui essas lágrimas?

 As vezes não escorre mas explode, se manifesta de algum jeito.

 Não tem como ficar, não foi feito pra ficar.

 E não é poético. Não é bom. Não alivia o tanto que eu gostaria. 

 Porque cansa. Porque não dá pra saber muitas vezes o ‘ por quê’...fica tudo embaçado.

Afinal,  foram tantos ‘ porquês’ ignorados, deixados pra ‘ depois’ que eles se misturam e viraram uma coisa só. 

 O 'depois', sempre é uma hora inesperada. É uma gota que cai ali, e pronto.

E a gente fica sem ‘entender’ muitas vezes. Porque parecia 'tudo bem'. 

  E quase ninguém entende.

Digo ‘ quase’ porque alguns sabem do que eu to falando. Não devem ser poucos, é verdade.

 Mas poucos admitem, reconhecem, encaram de alguma forma.

 Eu levei anos. Tantos, que quando descobri o que era, fiquei : meu Deus, por quê não descobri isso antes? Quanto sofrimento e desgaste eu poderia ter evitado!

 Foi ‘ me ouvindo falar’, que percebi o absurdo: pra quê evitar a dor?

Se a ‘ luta pela ‘não dor’ trava a vida?

Quanta vida travada em tanto tempo!

Quanto tempo parado, em tanta vida pulsando aqui dentro!

Eu chorei dolorosamente. E me arrependi.

De ter vivido tanto e tudo só na minha mente.

Vivi? Não sei. Sofri, cansei? Com certeza.

 Me arrependi porque a vida ‘ não é ciência exata’. Me arrependi  porque a vida ‘ é uma engrenagem múltipla’, e eu passei muitos anos vivendo como se só uma fosse suficiente.

 Preguiça? Medo? Fuga da dor? Tudo junto, provavelmente.

E o mais trágico é que não evitei dor alguma. Elas chegam, não há planejamento e proteção no mundo que as evite plenamente.

 Qualquer armadura é fumaça, ilusão, dissolve no primeiro vento contrário.

  Hoje sei o nome. Aprendi que ‘ nomear as coisas faz com que elas existam’.

Eu amo as palavras. Elas dão nome. Elas fazem existir. E o que existe , geralmente é matéria prima pra transformar.

 Eu tenho TAG. Muita gente tem, eu sei.

Não é o fim do mundo, não é algo a se envergonhar, mas também não é justificativa e armadura pra comportamentos que não quero mais ter.

 Já quis procurar ‘ culpados’ – genética? Trauma de infância? não sei ...

Já quase caí na armadilha do ‘ e se eu soubesse’...

Mas isso é coisa dela. Não vale a pena.

O que vale é saber que ainda há vida , então ainda há esperança.

Hoje eu sei que estamos nessa aventura que é viver, juntas. Não é bem uma amiga, mas tá aqui, então vamos fazer o melhor que dá pra ser.

 Sei que tem dias que ela vai aparecer com mais força. E outros que não vou nem lembrar como era viver com 84.000 preocupações na mente, todas ao mesmo tempo.

 Hoje eu sei que a vida é ‘engrenagem múltipla’.

Eu via como ‘ uma coisa só’, meio uniforme, mas não é.

 Uma coisa afeta o todo? Sem dúvidas

Mas cuidar só de uma coisa não é suficiente para resolver todas as outras.

Dá trabalho. Exige coragem. De tentar. Enfrentar. Errar.

Sempre tive dificuldade de lidar com essas coisas. O peso da ansiedade parece deixar tudo, absolutamente tudo , maior.

O mundo acaba toda vez que algo dá errado. 

Quantas vezes meu mundo já acabou , e recomeçou? Milhares.

 Ainda colho frutos de ter ignorado as outras partes.

 Mas em todo caminho de recomeço, vejo a graça de Jesus me acompanhando no caminho de cura.

Cura porque  o ‘ fardo ‘ Dele , é leve. Porque como disse meu pastor domingo, "situações difíceis nos fazem crescer." 

 E Ele é um bom Pai, que quer me ver crescer.

 Que não vai fazer o que eu preciso fazer.

 Mas que está aqui, ajudando, conduzindo, deixando eu errar também, pra aprender.

 Mostrando que nunca foi falta de fé, e que pra Ele, tudo, tudo mesmo, pode ser redimido e transformado. Vai saber o que ainda pode ser ?

 "Entre pensamentos de ansiedade e esperança", encontro Graça - que é tudo o que eu preciso pra viver. 

sábado, 30 de dezembro de 2023

A palavra que escolhi para 2023

 “ É o período mais bonito do ano”, diz uma música. Eu concordo. 

  Amo o Natal, os símbolos e significados, as festas, a nostalgia, as lembranças, as novas memórias que se formam, tanta coisa linda!

 Mas por algum motivo, também é um período que parece gerar mais textos. Mais reflexões talvez? Mais vontade de compartilhar? Não sei ao certo. Só sei que aparentemente, escrever em Dezembro é uma coisa quase instintiva, então, sigo minha própria tradição.

 Ainda estou nas retrospectivas, é verdade. Pensando em tanta coisa que aconteceu esse ano com um certo espanto: 

  " Como pode tanto acontecer em tão  pouco tempo?’"

Pode. Tempo faz parte, mas não é exatamente o que mede a intensidade ou a quantidade de acontecimentos.

  Mas o que me chamou atenção, foi vir procurar a palavra que escolhi no início de 2023 para mim mesma. Eu fiz até uns textos que ficaram no insta, achei que voltaria a escrever com mais frequência ( achei tanta coisa! Não fazia ideia de td que iria mudar poucos dias depois rs) e que lá seria um bom local pra exercitar a escrita e o compartilhar, já que o blog parecia meio parado. Neles, escrevi as palavras que alguns amigos e familiares compartilharam.

 Mas a minha, a que eu escolhi, ficou sozinha. Uma tela em branco, ao lado e abaixo.

Coragem’.

 Você já deve ter visto ela aqui. Ou nos meus quadrinhos, marca-páginas, tudo que eu posso colocá-la, naquela frase que eu amo do Lewis 

   “ Courage, dear heart’ – C. S Lewis.

 Ela é o lembrete do que eu preciso constantemente, do que repito pra mim mesma o tempo todo.

 ‘ Coragem’.

 Eu sempre tentei entender um pouco melhor essa palavra, já que ela parecia sempre tão distante e necessária. Era como olhar pras ideias de ‘ céu’ : um dia eu vou chegar lá, mas por enquanto, só tenho uma vaga noção do que seja.

 Esse ano foi diferente. Eu não tentei definir ou entender. Na verdade, eu não consegui. A palavra ficou sozinha, na página em branco. Esperando ser preenchida pelos dias. Porque honestamente , é onde ela realmente aparece.

  Eu sei que pra maioria das pessoas, coragem tem cara, tem som, tem forma, tem uma história que simboliza, tem algo concreto pra acessar e associar. Eu não consigo dividir isso muito bem hoje. Mas vejo ‘ coragem’ em cada dia de 2023.

 Nos dias que chorei horas, antes de tentar, tendo certeza que não ia dar conta...era preciso sentir a dor da auto sabotagem e deixar ela sair...essa companhia indesejável tão próxima.

 Nos dias que fiquei sozinha em casa, para estudar enquanto a família viajava, coragem de encarar a escolha que fiz, e o que fosse necessário para conseguir. Dias de me enfrentar também, que nunca foi fácil.

 Nos dias que cerrei os dentes e encarei as aulas até tarde da noite pra retomar um trabalho fora do prazo as 23, e só deitar quando era impossível continuar, lá pras 4, 5 da manhã.

Nos dias que abri o insta rsrs, que me abri pra conhecer pessoas, nos dias que precisei reconhecer meus limites também.

 Nos dias que fiz coisas novas...milhares delas, não cabe aqui se for pensar. Coisas simples. O ‘ date comigo mesma’ por exemplo.

 Nos dias que os planos deram errado. Muito errado. Se pensar bem, a impressão que tenho é que não concluí 1/3 dos planos que fiz para esse ano ( sou péssima com números, mas acho que to perto da realidade).

 Nos dias que vivi e aprendi sobre a ‘ graça comum’ nas coisas e pessoas mais inesperadas.

Sim, ela estava, todo tempo. É nítido.

Não houve grandes esforços religiosos ou ritualísticos da minha parte ( eles não são essencialmente ruins inclusive). Não fiz o plano bíblico completo pela 1 vez em 4 anos.

Não orei todos os dias. Dormi ouvindo Glorify ou pregações, muitas e muitas vezes.

Não participei de grandes conferências ou congressos.

 Mas o Senhor é tão absurdamente gracioso, que Ele esteve, todo tempo. E me ensinou de forma muito prática que a minha busca só revela e molda o meu próprio coração, não O Manipula.

 Ele apareceu conversando sobre literatura na Imersão. 

 Ele apareceu em tantas aulas, em assuntos cotidianos.

 Ele apareceu em cada plano fracassado, e cada conquista alcançada também, me mostrando que Ele É, e seus planos são sempre os melhores.

 Que eu não vou acertar sempre só porque entreguei os dias pra Ele, e o faço constantemente. (Muitas vezes, apenas por covardia e esperança de assim ficar a salvo dos erros, ou de consequências que não gostaria de lidar. E não por amá-Lo mais do que a mim).

 Ele sabe. Ele vê meu frágil coração, muitas vezes cheio de buscas ilegítimas e dores encrustadas.

 E Ele não desiste de me fazer enfrentá-las pra finalmente me livrar. Ou mesmo me desmascarar para então se revelar.

 Vejo coragem quando Ele me conduz a enfrentar meu orgulho, e ver como geralmente sou profundamente enganada sobre mim mesma, e todo o resto.


 Vejo a Coragem porque Ele é, e está. Todo tempo.


 

  

domingo, 4 de dezembro de 2022

Entre o dizer e o querer

    ‘Não saber o que dizer’ - que sensação estranha!

   A impressão que eu tenho, é que nunca senti isso antes, mas sei que é impressão apenas. 

   Não digo isso por ter ‘ sempre uma resposta na ponta da língua’, mas principalmente por ser muito rápida em ‘fugir’ : uma tirada, uma piadinha mais sem graça do que o assunto em si, uma patada as vezes, mudar de assunto.  Tudo tão prático que nem percebia mais nenhuma dessas saídas.

  Mas tem algumas perguntas que confrontam. Ou são as pessoas que as fazem, o momento, não sei. São aquelas que 'te empurram na parede'. E enquanto um ombro já se projeta pro lado, naquele movimento de ‘ não vou ficar aqui’ as palavras te empurram e te realinham na parede : estou de frente.    De frente , e o que eu mais temia não é o que está na minha frente. Sou eu.

 Porque a pergunta realmente confrontadora, não me faz ver o outro. Ela não me assusta por isso, seja lá quem for essa figura. Ela me assusta até os ossos porque tira minhas máscaras e me encara.

  E quando me encara, me vejo refletida naqueles olhos de espelho.                E é justamente quem eu não queria ver.

 Porque sinceramente, não sei o quê vou encontrar ali. 

  E ‘isso’ me assusta profundamente.

   Respostas vazias saem como murmúrios. 

  É tão sem peso e substância, que não encontra eco nem repouso em nada, nem ninguém.

‘ Não foi essa minha pergunta’, escuto no fundo da alma.

E eu, que tanto valorizo interpretação de texto, que sei exatamente a sensação de estar ouvindo -através de sons ou letras- alguém divagar, fugir do assunto, sei que insistir nesse caminho só vai aprofundar ainda mais a dúvida, o questionamento, essa espécie de cerco que parece querer me sufocar.

 Diante disso, eu sinceramente quero gritar.

Gritar sempre foi uma saída: o ar sai explodindo do peito, e parece arrancar muito da angústia com a força da sua passagem .

 Mas ele só afasta o interlocutor. A voz que personifica ou concretiza o motivo da fuga.

Eu ainda estou aqui. Gritando ou não, não posso escapar de mim. Pelo menos, não pra sempre.

 ‘ Tem que ter outro jeito’ - eu penso. Mas no fundo, eu sei que não tem.

 E sinceramente? Cansei de fugir. De correr de mim. É exaustivo e absolutamente frustrante.

Alguma luz começa a entrar : toda vez que eu não sabia o que queria, era exatamente assim que vivia. Como alguém que não sabe o que quer, por mais decidida e focada que aparentasse ser.

 Quando estive onde ‘ sempre achei que deveria estar’ foi quando mais me perdi de mim mesma e de tudo que me é referência , rocha. De Deus inclusive. Por mais louco que isso pareça, porque a impressão que eu tinha na época, é que a necessidade era tanta e tão profunda, que nunca estive tão perto.

  Mas hoje não vejo assim.

 Ele sempre esteve aqui :‘ nunca te deixarei, nunca te abandonarei’. O desespero só me fez mais consciente da minha dependência, mas também dos meus ídolos.

 As dores e dificuldades mais profundas expuseram muito do meu coração. Não a parte ‘ bonita’. Que nada mais é do que Ele, e Ele somente. Ou no máximo, o que Ele redimiu por pura graça e tremendo poder.

 Não percebi na hora. Nem nos dias que estava lá, achando que estava respondendo essas perguntas, enquanto na verdade, o que eu realmente estava fazendo, era correr delas.

Não se engane com as aparências. Deus não se engana.

É por isso que não dá pra permanecer no que não é pra ser.

Eu dizia que queria obedecer. Servir. Amar. Me entregar sem reservas.

Sem reservas é literalmente sem reservas. Não existe condições.

Mas eu tinha. Várias. Condicionadas por um estereótipo bem específico e rígido.

 E totalmente oposta a essa rigidez, o que eu queria no fundo era colo. Segurança. Aceitação.

Era me sentir amada de um jeito bem esquisito : incondicionalmente, no sentido de não ter que ser responsável nem por escolhas ou resultados que viesse a ter. Moralmente segura : "Aqui não tem erro. É aceitável. Nobre. Bonito. Ninguém tem coragem de fazer e todo mundo sabe que é pra fazer. Eu vou. Todo mundo fica feliz, e em troca, me aceita. E eu provo pra todo mundo que não ‘ atrapalho’ , pelo contrário, eu ajudo."

 Percebe?

Eu percebi esses dias. Há quase um ano o primeiro estalo veio, mas assim, desse jeito escancarado, foi esses dias mesmo.

 Porque servir, obedecer, amar, me entregar sem reservas é o que esta acontecendo hoje. 

 Hoje que faço escolhas. Milhares delas por minuto. E sou responsável , absolutamente por elas. Ao mesmo tempo que sei que minha responsabilidade é só a semente. A chuva e o sol, tudo que faz ela germinar não tem a ver comigo.

Parece sem sentido né? Mas pra mim faz todo sentido.

Eu , no fundo, não sabia o que queria. Só achava que sabia.

Respostas rápidas, corretas e bonitas, ou apenas prontas sempre estiveram aqui. Dizia o que todos esperam ouvir e seguia

 Além disso,  tenho profunda dificuldade de perceber, que dirá então assumir o que quero. Soa como um absurdo. "Como assim o que eu quero? Eu não tenho que querer."

 Mas eu  posso. Pq Ele é meu Pai, e não apenas meu Senhor.

Eu posso. Pq Ele tem prazer em atender o que está alinhado com os planos Dele, de alguma forma.

 E isso não é como descobrir um número premiado, ou a charada mais difícil do mundo, pq Ele já disse. Tá escrito. Tá revelado. Tá desenhado, pintado, tá em tantas formas. Só não tão específico como eu gostaria. Específico a ponto de tirar minha responsabilidade da equação. De me dar garantias de sucesso. De me poupar o fracasso que sinto que sou, especialmente nesse assunto que suscitou a pergunta inicialmente.

 Eu já sei o que Ele quer. Ele não me perguntou se eu quero obedecer, até porque creio que isso Ele já sabe.

Na verdade, tudo Ele já sabe.

A pergunta foi : o quê você quer?

Hoje eu sei, ou pelo menos, começo a saber. Não preciso mais fugir, já que finalmente descobri que não existe problema algum em querer.

 Hoje sei, e finalmente, pelo menos pra Ele, consigo dizer.


segunda-feira, 8 de agosto de 2022

Logos

 


No Princípio, era o Verbo, a Palavra, o Logos.

" Antes de tudo havia a Palavra, a Palavra presente em Deus, Deus presente na Palavra. A Palavra era Deus desde o princípio à disposição de Deus". - A Mensagem - João 1:1

 Logos que estava no Princípio, e através do qual Deus cria o Cosmos, pois Deus diz, e as coisas acontecem.

Ele fala. Ele age, Ele É.

Logos também é ' sabedoria' ou ' razão'.

 Cristo Jesus é a sabedoria de Deus. a Razão.

Mas Palavra sem som, é imagem , símbolo. 

É bonito. Diz muita coisa. 

Mas a voz, a voz toca além da vista! A voz ecoa e chega na alma. Vibra. Faz minhas células vibrarem em resposta.

 A voz é o que preenche o silêncio, o vazio, que tanto me incomoda.

 " Voz como o som de muitas águas' , que se faz ouvir das mais variadas formas: um sussurro, impressão, estrondo, canção.

 Voz e Letra, Símbolo e Som, Palavra completa. De forma que sou capaz de compreender. 

Ouvir. Ver. Conhecer
.

Mas Logos é em português? Grego? que mistura é essa?

 Logos é o original grego, mas a transcrição é com símbolo universal. Representação do som da minha língua materna, do meu jeito de falar, daquela que sou profundamente capaz de ouvir e até sentir.

 Porque foi assim que Jesus se revelou pra mim: de uma forma linda, próxima, profunda, e com milhares de referências e significados, que continuam a fazer minhas células vibrarem, minha alma ouvir, meu ser responder.

 Ele é, e sempre será.

 

Foto da Beatriz Ramos Fotografia

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